segunda-feira, 6 de junho de 2011

Another world outside of me

Quando entrou sentiu um enorme calor a subir-lhe pelo corpo acima. Sentia-se bem. Estava tudo muito calmo, não havia qualquer ruído que se desse conta, não havia nada fora do normal que o chamasse à atenção, apenas havia um cheiro que lhe era familiar. Procurava por tudo o que era espaço, algo que o pudesse ajudar a encontrar-se, mas em vão. No meio de tanta coisa, tanta coisa desprezável, não havia maneira de se encontrar. O cheiro continuava no ar. Depois de muita agitação na procura de si mesmo, entrou no estado de pura melancolia. Deitou-se no chão de madeira, virado para o tecto que unia aquelas quatro paredes que lhe pareciam cada vez mais acolhedoras. Lembrou-se de como o vento lá fora enrolara as folhas que caiam das árvores. Tentou desfazer-se desse gélido pensamento. Lembrou-se das noites passadas em volta da lareira a beber chocolate quente, a conversar, a rir e a sorrir. Lembrou-se dos abraços, dos sermões, das alegrias e das tristezas! De repente, vieram-lhe à memória todos aqueles anos já passados, como se pura e simplesmente estivesse a ver umas fotografias que estavam fechadas num gaveta à muitos anos. Levantou-se e olhou à sua volta, entusiasmado. Voltou a procurar, desta vez, já sabendo o que tivera de encontrar, mas novamente em vão. Desesperado, já não sabia onde haveria de procurar o que à tanto desejara encontrar. Foi como se de repente, o calor que sentira inicialmente, se tivesse transformado num enorme glaciar. Estava frio, estava só, estava triste, estava desiludido. Saiu à rua, na esperança de encontrar alguém, mas deparou-se num mundo ainda mais triste do que o “seu mundo”. As pessoas acumulavam-se na rua, e havia correrias e encontrões em todas as esquinas. Idosos a precisarem de ajuda e jovens com olhares egoístas e despreocupados; animais mal tratados e abandonados; rios de dinheiro com afluentes no cariz humano; o pior do mundo ali exposto mesmo à frente dos seus próprios olhos. Era o egoísmo humano destes seres intoleráveis que co-habitavam com ele. Cidadãos estes que enchiam o mundo de coisas sem interesse algum, como se enchessem uma confortável almofada de penas para se deitarem nela. Importunado com tudo isto, decidiu agir, tomar uma decisão. Entrou dentro daquelas quatro paredes que cada vez mais lhe careciam um sentimento familiar. Desiludido por ter assistido à maior tristeza global, foi sentar-se no cadeirão junto da lareira. Manteve-se em silêncio, e muito tempo depois de não ter quebrado esse silêncio infernal, decidiu então, quebrá-lo. “É triste. É desumano. É desprezável. É injusto. É ingratidão. É egoísmo. É a realidade. Infelizmente, ainda há crueldade!” Voltou a sentir aquele calor inicial e apenas lhe passou uma coisa pelo pensamento: “Triste e sozinho, mas feliz por nunca negar o carinho”.